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Economia circular é necessidade política, econômica e social


Por: Renata A. Vilarinho
Por: Renata A. Vilarinho

Entre os dias 13 e 16 de maio de 2025, o Brasil foi palco de um evento histórico: o Fórum Mundial de Economia Circular (WCEF). Pela primeira vez sediado na América Latina, o encontro mobilizou especialistas, lideranças políticas e empresariais, acadêmicos e a sociedade civil para discutir o futuro dos nossos sistemas produtivos e a urgência da transição para um modelo circular. A atmosfera era de transformação, não apenas pela beleza dos espaços projetados por Oscar Niemeyer no Parque Ibirapuera, mas pela consciência coletiva de que o tempo da economia linear já se esgotou.


O evento foi marcado por falas potentes e necessárias. Destaco, entre elas, a da ex-presidente da Finlândia Tarja Halonen, que nos lembrou que a economia circular não deve ser tratada como um nicho ambientalista, mas sim como uma agenda econômica, política e social, com embasamento científico e potencial de gerar inovação, competitividade e inclusão. Já o esloveno Janez Potonik, um dos maiores nomes da sustentabilidade global, foi direto: a economia linear é ineficiente e insustentável, ambiental e economicamente.


Potonik tocou em um ponto que precisa ser debatido com coragem: a economia circular ainda não é suficientemente atrativa para o mercado. É percebida, muitas vezes, como um custo, não como uma oportunidade. E aqui reside um dos grandes desafios do nosso tempo: mudar essa lógica exige mais do que vontade individual das empresas. Exige ação coordenada do Estado, políticas públicas robustas e regulamentações eficazes. O mercado, por si só, não dará conta dessa transição.


É por isso que a atuação do Brasil nesse cenário ganha relevância. Em menos de um ano, o país lançou duas iniciativas estruturantes: a Estratégia Nacional de Economia Circular (ENEC) e o recém-aprovado Plano Nacional de Economia Circular (PNEC). Este último foi construído com ampla participação da sociedade e da comunidade científica e organiza 71 ações em torno de cinco eixos estratégicos. Estamos, enfim, com uma bússola nas mãos. Resta agora percorrer o caminho e fazê-lo com seriedade.


Durante o painel “A reciclagem não vai nos tirar dessa”, o Secretário Adalberto Maluf, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), foi certeiro ao afirmar que não se trata apenas de reciclar mais, mas de redesenhar profundamente nossos sistemas de produção e consumo. Não é exagero dizer que essa é uma revolução silenciosa, que demanda articulação entre diferentes setores, ministérios e esferas de governo, além do engajamento da sociedade como um todo.


No encerramento da cerimônia de abertura, uma fala ressoou em mim com força especial. O Chefe de Gabinete do MDIC, Pedro Henrique Giocondo, evocou uma das frases mais célebres de Oscar Niemeyer: “Não é o ângulo reto que me atrai… o que me atrai é a curva livre e sensual.” Essa estética da circularidade é, acima de tudo, um chamado à lógica da vida. A natureza é circular. O universo é circular. Nossa economia precisa, urgentemente, seguir esse mesmo princípio.


Se queremos um futuro regenerativo, não apenas sustentável, mas também reparador, inclusivo e resiliente, precisamos assumir, com coragem e consistência, a circularidade como eixo estruturante de nossas decisões. A boa notícia é que o Brasil já começou esse movimento. A melhor notícia será ver esse plano sair do papel.


*Advogada, palestrante, especialista em Direito Ambiental e em Neurociência. Diretora de Parcerias Estratégicas da Polen e professora de pós-graduação da Human S.A. na temática de economia circular


 
 
 

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